Sara Beatriz Guardia: Escritura femenina en America Latina

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Anu. Lit., Florianópolis, v.18, n. esp. 1, p. 15-44, 2013. ISSN 1414-5235
Mulheres e Literaturas
http://dx.doi.org/10.5007/2175-7917.2013v18nesp1p15
Literatura e escrita feminina
na América Latina
Sara Beatriz1Guardia*
Universidad de San Martín de Porres
Resumo: Uma das características mais notáveis da escrita feminina é
a forma direta de interpelar os discursos hegemônicos, criticar e reinterpretar
a tradicional cultura latino-americana. Vozes que emergem do silêncio para
desenhar novos mapas discursivos na reconstrução da memória e da fi cção,
o que também signifi ca uma linguagem própria, um espaço de liberação,
de reconhecimento de si mesmas e de redefi nição. Este artigo segue o
desenvolvimento desta escrita ao longo de um intenso processo dos momentos
fundamentais da literatura escrita por mulheres na América Latina.
*1Escritora, fundadora e diretora do Centro de Estudios La Mujer en la Historia de
América Latina. Entre os prêmios recebidos, foi-lhe concedida a Medalha Simón Bolívar,
em 2009, e a Medalha Ville de Bagneres de Bigorre pela publicação de “Europa América
Latina al alba del tercer milenio”. “La flor morada de los Andes” recebeu os prêmios de
Mejor Libro entre los Mejores publicados durante los 12 últimos años, Gourmand World
Cookbooks Awards 2008 e Opera House, Frankurt, 2008, entre outros. Sara Beatriz
Guardia também é professora da Faculdade de Ciências da Comunicação, Turismo e
Psicologia da Universidade de San Martín de Porres, Lima, Peru. Além disso, atua como
diretora da Comisión del Bicentenario. Mujer e Independencia en América Latina e
da Cátedra José Carlos Mariátegui. O texto foi gentilmente traduzido pela profa. Dra.
Janaína Soares Alves, do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de
Santa Cruz – Ilhéus – Bahia-Brasil
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Palavras-chave: Rompendo o discurso hegemônico. Processo de
literatura escrita por mulheres na América Latina.
Utilizarei neste trabalho o termo literatura escrita por mulheres,
embora não questione o termo literatura feminina na sua defi nição de
conjunto de textos literários produzidos por mulheres, muito menos
escritura feminina, que abrange o fato de que as mulheres participaram
na atividade de escrever, e que a literatura é o modo privilegiado no qual
a sua escritura se manifesta (ESTUPIÑÁN, 2004, p. 75). Expressão
produzida em sociedades hierárquicas e com estruturas patriarcais,
no contexto da dominação espanhola e portuguesa que originou um
encontro violento entre dois mundos, e signifi cou o começo de uma
relação plena de confl itos, acordos e discrepâncias, em que a exclusão
e a marginalidade das mulheres indígenas esteve na base da construção
das colônias espanholas; não obstante, os vencidos conservaram até a
morte suas crenças em um intenso processo de resistência que repercutiu
profundamente em nossa história e em nossa cultura.
O objetivo da história – diz Pierre Vilar – não é “fazer reviver o
passado”, mas compreendê-lo, o que signifi ca reescrevê-la a partir da
revisão de conceitos e métodos existentes para substituí-los por uma
nova maneira feminina de abordar o pensamento crítico, com uma
orientação que permita conhecer e compreender esse outro lado da
história surgido da outra margem (GUARDIA, 2002, p. 202). Tratase
de ler os textos escritos pelas mulheres, interpretando seus silêncios,
e aquilo que criticam e interrogam da cultura tradicional, como meio
de substituir o discurso falocêntrico e apropriar-se de uma identidade
que lhes tem sido negada. A escritura converte-se assim, como enfatiza
Hélène Cixous, num espaço de liberação, de reconhecimento de si
mesmas e de redefi nição, mediante as diferentes formas de representação
que assume a pluralidade das vozes literárias femininas, ausentes de um
cânone quase exclusivamente masculino (GUTIÉRREZ, 2004, p. 33).
Neste processo, farei referência aos momentos constitutivos da
literatura escrita por mulheres: a literatura fundacional; que rompe
o silêncio no século XIX; a vanguarda literária artística da década de
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vinte; o começo de um longo caminho. Escritoras dos anos cinquenta
e sessenta; a liberação através da palavra; e o desafi o ao futuro sobre a
produção literária do século XX. Ao longo desta escritura, encontraremos
eixos temáticos que aparecem de maneira permanente em romances,
contos e poesia, que poderíamos sintetizar em um só anseio, a busca de
uma voz própria.
Soror Juana Inés de la Cruz (México, 1648-1695) iniciou no século
XVII a escritura feminina na América Latina questionando, através de
sua prosa e de sua poesia de incontestável valor literário, as normas da
sociedade e da Igreja daquela época. Advogou pelo direito das mulheres
à educação e ao desenvolvimento intelectual, a liberdade de expressar
sua criatividade e sensibilidade; “como freira declarou sua capacidade de
mulher pensante para estudar teologia e conciliar sua religiosidade com
uma vida criativa; no entanto, como dramaturga fez algo mais que uma
transgressão. Escrever, montar e editar comédias seculares foi um ‘crime’,
ou seja, uma das maiores transgressões que uma freira enclausurada pode
cometer” (SCHMIDHUBER DE LA MORA, 2007, p. 87).
Muitas outras freiras escreveram durante esse período. Tratase
de uma escritura autobiográfi ca controlada por confessores e guias
espirituais que regulavam, apoiavam ou desestimulavam os textos.
Mediação e consentimento estritamente vinculados às normas e
preceitos da Igreja e do Tribunal da Santa Inquisição. Neste diálogo
entre a freira e o confessor “que compartilhavam uma vivência inspirada
por Deus, a irmã se confessava e escrevia sobre si mesma ou sobre sua
ordem e suas irmãs na religião. Ao confessor cabia escutar, decifrar,
ordenar os signos de espiritualidade e sua reinterpretação” (LAVRIN;
LORETO, 2002, p. 8).
Os únicos textos conhecidos que não pertencem a esta literatura
conventual são anônimos. “Discurso en Loor de la Poesía”, atribuindo
a uma dama que residia em Lima chamada Clarinda, de quem não se
tem maiores dados, e que foi publicado em “El Parnaso Antártico” de
Diego Mexia de Fernangil, editado em Sevilla em 1608. Depois, em
1621, em “La Filomena”, de Lope de Vega, apareceu a “Carta poética
Epístola de Amarílis a Abelardo” dirigida no Peru por “Amarilis”,
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pseudônimo, ao que tudo indica, pertencente à dona Maria de Rojas y
Garay. Nesses textos, o feminino está subordinado ao masculino em uma
relação hierárquica, “onde o masculino domina o espaço, o controla,
e se projeta como princípio superior frente ao feminino.” (QUISPEAGNOLI,
2007, p. 122).
Rompendo o silêncio
Alcançada a independência da Espanha no século XIX, a
constituição das repúblicas signifi cou uma profunda mudança nas
instituições de poder sob a infl uência da transformação socioeconômica
que a Europa viveu nos séculos XVII e XVIII. A Revolução Francesa,
um novo conceito de democracia, e a Revolução Industrial foram
acontecimentos importantes. Tudo isso contribuiu para um estado
de preocupação e de revalorização do papel da educação feminina,
permitindo que surgisse uma singular presença feminina na literatura,
revistas dirigidas e escritas por mulheres, e a formação de clubes literários
em que se debatiam os problemas da época.
Mas não foi fácil romper o silêncio para as escritoras latinoamericanas
do século XIX, em um clima de intolerância e hegemonia do
discurso masculino ainda era bastante denso. Referimo-nos a Gertrudis
Gómes de Avellaneda (Cuba 1814-1873), Juana Manuela Gorriti
(Argentina 1818-1892), Maria Firmina dos Reis (Brasil 185-1917),
Mercedes Cabello de Carbonera (Peru1845-1909), Lindaura Anzoátegui
(Bolívia 1846-18980), Clorinda Matto de Turner (Peru 1858-1909),
e Adélia Zamudio (Bolívia 1854-1928). Excluídas e marginalizadas
do sistema de poder, essas escritoras outorgaram voz aos desvalidos
excluídos, questionando as relações inter-raciais e de classe.
Em uma época na qual se acreditava que o escravo não tinha
alma nem sentimentos, Gertrudis Gómez de Avellaneda deu voz ao
explorado em razão da etnia e cultura em seu romance Sab, publicado
em Madrid, em 1841, dez anos antes que aparecesse no “Th e National
Era” o primeiro capítulo de La cabaña del tío Tom, o famoso romance
de Harriet Beecher Stowe sobre a escravidão nos Estados Unidos. Em
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Sab, Gómez de Avellaneda descreve a crueldade com que eram tratados
os escravos nos engenhos de açúcar de Cuba, em um grau considerado
subversivo pelas autoridades coloniais e se transformou em um protesto
antiescravagista tão polêmico que só em 1914 foi publicado nesse país.
No Brasil, Maria Firmina dos Reis, que como mulata viveu diretamente
a segregação social e racial, publicou em 1859, Úrsula, o primeiro
romance abolicionista de seu país, e o primeiro escrito por uma mulher.
Úrsula aborda a escravidão a partir do ponto de vista do outro, temática
também presente em seu conto “A escrava” (1887).
Enquanto que o tema central de Aves sin nido (1889), de Clorinda
Matto de Turner, é a denúncia ao maltrato e à opressão que sofriam os
índios, além da corrupção e incompetência de juízes, governadores e
padres. As personagens femininas constituem as protagonistas do conto.
São elas que se erigem em defensoras da justiça transgredindo o discurso
patriarcal hegemônico no fi nal do século XIX, no qual as mulheres
aparecem indefesas, como pessoas que requerem apoio e necessitam de
condução para desenvolver-se na esfera pública. São elas seus aliados,
as que condenam os opressores, e a chave da relação entre mulheres e
homens, entre índios e brancos (GUARDIA, 2007, p. 171). A reação
contra a escritora foi intensa, sendo recriminada por seu anticlericalismo
em numerosos artigos, o que resultou em sua exclusão do círculo de
intelectuais. Fato que se agravou quando, em 23 de agosto de 1890,
foi denunciada pelo arcebispo de Lima porque em “El Peru Ilustrado”,
revista que ela dirigia, foi publicado um conto do escritor brasileiro
Henrique Maximiliano Coelho sobre a vida de Cristo, em que aparece
um Jesus mais terreno, interessado em Maria Madalena. O arcebispo
proibiu a leitura da revista, a excomungou e Aves sin nido fi gurou entre os
livros condenados. Pouco depois, viajou em exílio a Buenos Aires onde
morreu a 25 de outubro de 1909. Sequer lhe foi permitido regressar ao
Peru, e somente quinze anos depois, em 1924, os restos de Clorinda
Matto de Tuner foram enterrados em Lima.
Mercedes Cabello foi uma tenaz defensora da educação e da
emancipação da mulher, posição que se refl ete em vários de seus artigos
publicados nos diários da época em Lima. Em 1886 obteve a medalha
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de ouro por seu romance Sacrifi cio y recompensa, no concurso promovido
pelo Ateneo de Lima. A referida obra demonstra sua simpatia pelos
patriotas cubanos que combateram na independência da Espanha. No
ano seguinte, em 1887, publicou seu romance Eleodora; em 1890, Blanca
Sol e Las consecuencias, consideradas como suas obras mais importantes,
marcos do romance realista no Peru.
Quando em 1892 publicou El conspirador, a crescente confrontação
entre livres pensadores – para quem Mercedes Cabello se constituiu um
símbolo – e representantes do poder político e da Igreja, foi agravandose
cada vez mais. Com frequência nas páginas dos principais diários foi
alcunhada de louca, e isso se repetiu todos os dias durante meses, até que foi
sugerido que devesse ser internada em um manicômio logo após o discurso
que pronunciara no Liceo Fanning onde defendeu a educação laica, quando,
para maior escândalo das pessoas presentes, destacou a necessidade de que
as mulheres conhecessem o próprio corpo. Em 27 de janeiro de 1900 foi
internada no Manicômio del Cercado de Lima, onde permaneceu nove
anos em silêncio e desterro até falecer em 12 de outubro de 1909.
Destaca-se na Bolívia o romance Cuidado con los celos (1893), de
Lindaura Anzoátegui, primeira escritora boliviana a denunciar o mau
trato e a exploração que sofriam os índios de seu país e a questionar a
situação da mulher. Em seu romance, as mulheres e os marginalizados
adquirem identidade e se tornam eles mesmos quando se sacrifi cam
(AYLLÓN, 2007, p. 173). Por outro lado, Adela Zamudio em seu
romance Intimas, refere-se à impossibilidade do amor e do matrimônio
em uma sociedade que marginaliza o sexo e o sujeita à submissão
reprodutiva. Em contos e poesia expressou o profundo mal estar que
produzia a condição de subordinação das mulheres:
Cuánto trabajo ella pasa
Por corregir la torpeza
De su esposo, y en la casa,
(Permitidme que me asombre). Tan inepto como fatuo,
Sigue él siendo la cabeza, ¡Porque es hombre!
(ZAMUDIO, 1999, p. 39)
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Juana Manuela Gorriti lutou pelos direitos da mulher ainda que
com as contradições da sociedade daquela época na idealização da mãe,
esposa e virgem. Autora de Panoramas de la vida: coleção de romances,
fantasia, lendas e descrições americanas, sua produção literária “vai do
ponto mais culminante do romantismo até o positivismo do fi m do
século” (FERREIRA, 2007, p. 163).
Tal como disse Cornejo Polar, em relação ao romance de Clorinda
de Matto, a literatura escrita pelas mulheres ao fi nal do século XIX pode
ser lida como uma refl exão sobre a modernização e a construção de
uma nova identidade baseada na integração da mulher à vida social e
econômica, e a integração da comunidade indígena liberada dos abusos
aos era submetida.
Vanguarda literária e artística da década de 1920
A Primeira Guerra Mundial e o triunfo da Revolução Russa
infl uenciaram profundamente as primeiras décadas do século XX.
São os anos do surrealismo, da Quimera de Oro de Chaplin e El
acorazado Potemkin de Eisestein. Os trabalhadores unem-se em intensas
reivindicações pelas jornadas de oito horas e pela organização sindical;
surgem novas correntes literárias e artísticas, baila-se o charleston e a
valsa. As mulheres cortam os cabelos, despojam-se de seus trajes longos,
e proclamam o direito de serem artistas e escritoras. No Peru, José Carlos
Mariátegui funda em 1926 a revista Amauta que ele mesmo defi niu
como de doutrina, arte, literatura e polêmica, através de uma perspectiva
crítica e de vanguarda, em que se publicaram artigos, poemas e contos
das mais destacadas escritoras daquela época.
As mulheres que escreveram neste período de transição do fi nal
do modernismo e desenvolvimento do vanguardismo expressaram
um mundo interior pleno de intensidade lírica, posto sem temor nem
vergonha de serem mulheres, de se sentirem artistas e livres. Provavelmente
por isso, aparecem como pessoas estranhas, revoltadas e muito sensíveis.
São as tragédias da história cultural latino-americana: Alfonsina Storni
suicidou-se, Delmira Agustini morreu assassinada pelo seu marido, María
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Luisa Bombal tentou assassinar um antigo amante, e María Antonieta
Rivas Mercado se suicidou na Catedral de Notre Dame, em Paris.
A fi gura emblemática dessa época foi a poetisa chilena Gabriela
Mistral (1889-1957) e, no Peru, Magda Portal (1900-1988). O tema da
maternidade, o desejo de ser mãe e ter fi lhos é particularmente tratado
na poesia de Mistral. Hoje sabemos que “foi mãe, inclusive biológica,
ainda que isso não transcendeu publicamente; que perdeu seu fi lho Yin
Yin quando este era adolescente, em circunstâncias trágicas; e que sua
visão sobre a maternidade oscila ao calor de suas experiências vitais e
de seus trajetos estéticos e ético-políticos que ela vai desenvolvendo”
(MORALES; SALOMONE, 2007, p. 487). Já a poeta cubana Dulce
María Loynaz (1902-1997) escreveu um poema à contracorrente
intitulado: “Canto a la mujer estéril”, que foi duramente criticado.
Por outro lado, para Magda Portal, poeta e militante política, a
arte é o resultado lógico das diversas tendências sociológicas e fi losófi cas,
e não produto anárquico. Declara que a arte nova corresponde à pósguerra,
aos inusitados triunfos da ciência e ao grito de liberdade que
lança o homem. “Todo um desfi le de cadáveres foi necessário para isto,
também milhões de fantasmas famintos”, acrescenta. “A arte se despiu
das inúteis pompas de Darío - a beleza em si é estéril, a arte deve ser
criadora” (Revista Amauta, n. 5, Lima, janeiro de 1927, p. 12). Nos
7 Ensayos de Interpretación de la Realidad Peruana, Mariátegui (1991,
p. 322) enfatiza o advento de Magda Portal. Segundo ele, surge para
o Peru a primeira poeta, porque até a sua chegada só havia surgido
mulheres de letras.
Alfonsina Storni (Argentina, 1892 – 1938) alcançou popularidade
com a publicação, em 1925, de seu poemário Ocre, e teve uma importante
presença na vida intelectual do seu país. Em diversos artigos deixou claro
“que a mulher não estava mais disposta a tolerar os ultrapassados limites
intelectuais, sociais e políticos e que se encaminhava decididamente ao
alcance de sua emancipação” (LONGO, 2007, p. 479). Também tiveram
reconhecimento por sua procução Juana de Ibarbourou (Uruguai 1892-
1979) e Delmira Agustini (Uruguai 1886-1914), entre outras.
O gênero autobiográfi co, iniciado em 1915 com Boudoir Diary,
da brasileira Flora de Oliveira Lima, teve várias seguidoras durante esse
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período como a venezuelana Teresa de la Parra (1889-1936) que em
seus romances: Ifi genia, Diario de una señorita que escribió porque se
fastidiaba, Memorias de Mamá Blanca, Diario de una caraqueña por el
Lejano Oriente, e Diario de Bellevue-Fuenfría-Madrid, mostram aspectos
relevantes de sua vida e de sua educação, postulando uma “nova origem
da cultura elaborada a partir de uma feminilização da transculturalização
latino-americana” (MATTALIA, 2003, p. 145).
Victoria Ocampo (Argentina 1890-1979), escreveu suas memórias
em sete volumes. O primeiro, El Archipiélago, está constituído por
breves vinhetas de rememoração de sua infância. A chilena María Flora
Yánez (1898-1982) publicou Visiones de la infancia (1947), conhecido
como um “livro de excepcional relevância já que introduziu a intimidade
familiar, o cotidiano dos lares santiaguenses no cenário literário do
seu país descritos sob um tom poético” (PACHECO, 2004, p. 124).
Diferente é, no entanto, o tom autobiográfi co da peruana Zoila Aurora
Cáceres Moreno (1877-1958) em seu romance Mi vida con Enrique
Gómez Carrillo, publicado em 1929. Nele, a escritora quer estabelecer
sua própria verdade, propósito importante se se tem em conta que
encobre que seu esposo era homossexual. Neste gênero, o livro mais lido
foi Las Memorias de una cubanita que nació con el siglo, de Renée Méndez
Capote (1901-1989), que recorda sua infância, a educação das mulheres
e as reuniões sociais daquela época.
Entre 1919 e 1950 houve, na Colômbia, uma presença
importante de escritoras que até a publicação da antologia de escritoras
da Antioquia, publicado no ano 2000, permaneceram no esquecimento.
Entretanto, trata-se de 44 contos dos quais 25 foram publicados, sendo
que vários deles concorreram ao Concurso Feminino de Literatura de
1921, demonstrando “os obstáculos que as mulheres enfrentavam para
competir em pé de igualdade com os escritores pelo seu acesso desigual
à educação, e pela falta de apoio ao seu trabalho intelectual” (PÉREZ,
2007, p. 221). Destacam-se as crônicas e contos de costume de Sofía
Ospina de Navarro que descrevem, com um agudo sentido de observação
e humor, a vida das mulheres da cidade de Medelín.
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Mesmo que a tentativa de assassinato de seu ex-amante, o senador
Eulogio Sánchez Errázuriz, dez anos depois de ter terminado a relação
amorosa, a escritora chilena María Luisa Bombal (1910-1980) se
transformou no alvo de críticas e ataques. Seus romances La última niebla
(1935) e La amortajada (1938) representam um marco na literatura
latino-americana. Questionam com ironia a sociedade e a classe que
coube a ela viver, e exploram profundamente o feminino tradicional.
La amortajada tem uma estrutura quase pós-moderna, “pensada desde o
momento em que o leitor identifi ca a voz narrativa principal como um
cadáver” (MARTÍNEZ-FERNÁNDEZ, 2007, p. 221).
A rememoração histórica está presente na mexicana Nellie
Campobello (1909-1986), autora de Cartucho y Relatos de la lucha en el
norte de México, no qual descreve acontecimentos relacionados à revolução
mexicana. Da mesma forma, a peruana María Nieves y Bustamante
(1865-1947) no seu romance Jorge, el hijo del pueblo (1892) relata os
trágicos acontecimentos do levante de Arequipa contra o governo de
Castela em 1856, a mais cruel das guerras civis que destroçaram o Peru.
Durante esse período, surgem no México importantes dramaturgas:
Catalina D´Erzell, (1891-1950), publicou em 1927: ¡Esos hombres!, obra
teatral representativa da condição da mulher mexicana daqueles anos.
Amalia de Castillo Ledón (1898-1986), uma das primeiras feministas do
México e autora de Cuando las hojas caen, peça que estreou com grande
sucesso em 1929. María Luisa Ocampo (1900-1974), em La casa en
ruinas (1934), apresentou uma típica família de classe média em que a
única missão da esposa era de cuidar do seu marido. Logo, as mudanças
produzidas na sociedade mexicana foram refl etidas em Cuando Eva se
vuelve Adán, de Magdalena Mondragón (1913-1989), e Divorciadas,
de Julia Guzmán (1906-1977). Neles, as protagonistas lutam pelos
seus direitos, numa época de confrontação com a mulher tradicional,
que signifi cava ter muitos fi lhos, ser submissa e abnegada ao marido
(DORIA, 2007, p. 328). Ao passo que, em Divorciadas, aparecem as
mulheres que, oprimidas e marginalizadas pelos seus maridos, não têm
outra alternativa senão o divórcio, vivido com um grande sentimento de
culpa por ter deixado os fi lhos sem pai.
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O começo de um longo caminho
A marginalização cultural, política, social e econômica das mulheres,
e a pouca autoridade intelectual que lhes era concedida, constituem-se
nos temas centrais da obra da poetisa e romancista mexicana Rosario
Castellanos (1925-1974). Em um momento em que as mulheres latinoamericanas
começavam a percorrer um longo caminho em prol de sua
própria voz, para escrever vendo-se como mulheres, Castellanos adverte
que “a genialidade aparece como uma espécie de masculinidade superior
e em conseqüência disso, a mulher nunca poderá ser genial, pois vive de
um modo inconsciente ao passo que o homem é consciente e ainda mais
consciente o gênio” (CASTELLANOS, 2005, p. 45).
Os confl itos e problemas que as mulheres devem enfrentar
“para se constituir em sujeitos criadores de obras culturais e artísticas”
(CANO, 2005, p. 11), analisados e refl etidos por Castellanos, deram
um importante impulso à literatura escrita por mulheres através de
personagens femininos vencidos e em situações limites. Fio condutor
que se percebe desde o seu primeiro romance, Balún Canán, publicada
em 1957, no qual a defesa dos sem posse, e a resistência dos povos
indígenas contra as famílias donas de grandes fazendas, no período de
reforma agrária (1935-1940), sob a presidência de Lázaro Cárdenas,
aparece na relação entre uma menina e sua babá indígena. São dois
mundos separados e enfrentados, os excluídos e os opressores, que a
menina vai descobrindo através dos gestos cotidianos e inocentes, que
lhe produzem uma dor intensa. No idioma maia, Balún Canán signifi ca
os Nove Guardiões em referência às montanhas que protegem Comitán,
um antigo povoado indígena situado no conturbado estado de Chiapas.
A menina como protagonista na narrativa latino-americana
de meados do século XX não é casual, já que “a novela de formação
permite o confronto da protagonista frente aos valores da sociedade
em um processo em que põe em jogo os desejos dos indivíduos e suas
possiblidades de cumpri-los” (POPE, 2003, p. 237). Como, por exemplo,
em Ana Isabel, una niña decente (1949), da venezuelana Antonia Palacio,
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e El peligro (1957), da peruana Sara María Larrabure, embora que nele
prime o desejo da liberdade e anseio em perder o medo.
Outra grande fi gura deste período é a escritora mexicana Elena
Garro (1920-1998). Em 1958, publicou suas primeiras peças teatrais
em Un hogar sólido. Com seu romance Los recuerdos del porvenir (1963)
ganhou o Premio Xavier Villaurrutia. O romance trata sobre a Guerra
Cristera onde o tema do poder se apresenta sob uma perspectiva política,
mas, sobretudo, fantástica, elemento que permeia em sua obra. Foi a
primeira esposa do célebre poeta Octavio Paz e, segundo a pesquisadora
mexicana Patricia Rosas Lopátegui, foi menosprezada e esquecida como
dramaturga e escritora, sem, inclusive, ter seu trabalho jornalístico –
desenvolvido durante a década de 1940 – reconhecido . Em que medida
este esquecimento tem relação com o grande prestígio de Paz? É uma
pergunta que subjaz nas biografi as sobre a escritora. Teríamos que
dizer também que foi uma opositora tenaz do governo, e que nunca
se adequou à sociedade tradicional mexicana, que a negou, porque se
atreveu a questionar o poder patriarcal do estado e do marido.
O insólito e a busca de Deus está encarnada na poesia da mexicana
Enriqueta Ochoa (1928-2008). Desde o início de sua obra nos anos
cinquenta, se esquiva dos olhares estranhos, e como escreve à fi lha
pequena: “Eu me olho e não sou uma cripta em chamas, / uma existência
inconforme, sonâmbula,/ carregada de fadiga”. Em contrapartida, o
oculto, “o que implica o mistério, a cidade labiríntica como metáfora
da realidade cotidiana, a busca do espírito, a refl exão sobre o atual”,
são alguns traços que caracterizam a fi cção de Luisa Josefi na Hernández
(1928) (ESTUPIÑÁN, 2004, p. 9).
O tema da pobreza está presente no romance que Raquel de
Queiroz (Brasil, 1910-2003), publicou em 1930, O Quinze, ao passo
que a brasileira Patrícia Galvão (1910-1962) irrompe como militante do
partido comunista na sua luta contra o governo autoritário de Getúlio
Vargas. Publicou Parque Industrial, em 1933 e Paixão Pagu, conto
autobiográfi co. Patrícia Galvão se atreveu a desafi ar um sistema político
pelo qual foi presa três vezes, e “provocou uma revolução em um tempo e
uma sociedade que não estavam preparados para que uma mulher deixasse
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seu papel de mãe e esposa e se prendesse à busca de uma meta que não
fosse o matrimônio” (FERNÁNDEZ-BABINEAUX, 2007, p. 210).
Liberação através da palavra
Em 1971, com a publicação do livro Valses y otras falsas confesiones,
da poeta peruana Blanca Varela (1926 -2009), a voz lírica alcança uma
intensidade expressiva “poucas vezes alcançada na poesia do Peru, denuncia
abertamente um mundo feito para a guerra entre os países, para o confronto
de gênero” (MARTOS, 2002, p. 451), o que origina a degradação dos
homens e das mulheres. Em sua obra, Vals del Angelus, diz:
Ve lo que has hecho de mí, la santa más pobre del museo,
la de la última sala, junto a las letrinas, la de la herida
negra como un ojo bajo el seno izquierdo.
Ve lo que has hecho de mí, la madre que devora a sus
crías, la que se traga
sus lágrimas y engorda, la que debe abortar en cada luna,
la que sangra todos
los días del año. (VARELA, 1974)
É a voz da mulher que está criando seu próprio texto literário, é
a moça má da história como María Emilia Cornejo (Peru, 1950-1972)
que antes de se suicidar, quando tinha apenas 22 anos, proclamava:
Yo soy la muchacha mala de la historia
la que fornicó con tres hombres
y le sacó cuernos a su marido
soy la mujer que lo engañó cotidianamente
por un miserable plato de lentejas...
soy la mujer que lo castró
con infi nitos gestos de ternura
y gemidos falsos en la cama
soy
la muchacha mala de la historia. (CORNEJO, 1994)
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Alejandra Pizarnik (Argentina 1936-1972), a poeta emblemática
dos sessenta e setenta, cuja voz, expressão de dor, oscila entre a morte e
a atração ao silêncio. Seu suicídio consolidou o mito da poeta maldita, e
sua morte “o ato fundador de seu trabalho criativo e, em certo sentido,
sua escritura provem de um gesto fatal” (GALVIN, 2007, p. 366). Em
Fragmentos para dominar o silêncio, escreve:
Las fuerzas del lenguaje son las damas solitarias,
desoladas, que cantan a través de mi voz que escucho a
lo lejos. Y lejos, en la negra arena, yace una niña densa
de música ancestral. ¿Dónde la verdadera muerte? He
querido iluminarme a la luz de mi falta de luz. Los ramos
se mueren en la memoria. El yacente anida en mí con su
máscara de loba. La que no pudo más e imploró llamas y
ardimos. (GALVIN, 2007, p. 366)
Como Clarice Lispector (1920-1977) foi escritora de fi cção de
vanguarda com uso de metáforas íntimas e de ruptura. Em sua obra,
revela uma permanente crise de identidade através de um estilo que
ela mesma defi niu como “não estilo”. Os personagens femininos de
seus romances e contos são complexos e estão na luta desde a solidão
e o sentimento de desvantagem, sempre em constante refl exão sobre
si mesmos, falam com eles mesmos e com seu “eu” mais íntimo.
O mesmo ato de escrever a conduz ao vazio: “Tenho medo de escrever,
é tão perigoso. Quem tentou, bem sabe. Perigo de remexer o oculto
e o mundo não vai à deriva, está oculto nas suas raízes submersas nas
profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio.”
(LISPECTOR, 1991, p. 19)
São os anos de dor, as mulheres começam a ocupar um espaço
na literatura e na vida em permanente confronto com a sociedade
patriarcal. Fanny Buitrago (1945), em El hostigante verano de los dioses
(1963), questiona a relação entre homens e mulheres; Marvel Moreno
(Colômbia, 1939-1995) incorpora em Algo tan feo en la vida de una
señora bien (1980) personagens femininos que podem escutar-se e
compreender-se como mulheres; Laura Antillano (Venezuela 1950-)
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volta o olhar para sua infância através de uma narrativa fragmentária
até chegar a uma narrativa linear. Helena Parente Cunha (Brasil 1930-)
em A casa e as casas (1966) incursiona no espaço das mulheres ânsias,
refl etindo a opressão que sofrem; Lygia Fagundes Telles (Brasil 1923-)
ganha com seu livro de contos O cacto vermelho o Prêmio Afonso
Arinos, da Academia Brasileira de Letras; Nélida Piñon (Brasil 1937-)
publica a partir de 1961 um importante número de romances; Elvira
Foeppel (1923-1998), em Círculo do medo (1960) e Muro Frio (1961),
apresenta mulheres angustiadas que não conseguem um espaço próprio
na sociedade excludente e patriarcal, e entram em confl ito porque não
encontram nenhuma saída nem solução.
Rosario Ferré (Puerto Rico 1938-) se constitui em uma fi gura
chave na história cultural da América Latina porque rompe com a
tradição feminina ao adotar uma posição política diante da sociedade.
Em Papeles de Pandora (1976) e Maldito Amor (1986), as mulheres são
rebeldes que pugnam por ocupar um lugar que lhes corresponde em um
contexto de luta entre classes sociais, dominação de gênero, da burguesia,
e dos Estados Unidos, “através de uma polifonia de vozes femininas
que resgatam a linguagem popular e que lutam contra a fragmentação
de sua própria identidade e da identidade portorriquenha.” (CURIEL,
2007, p. 279)
A repressão política imposta pelas ditaduras na América Latina
durante os anos sessenta e setenta, principalmente, se vê refl etida na escrita
da uruguaia Teresa Porzecanski (1945), através de uma grande metáfora
do silêncio sofrido e autoimposto quando era proibido escrever, falar, e
inclusive, pensar (VELARDE, 2005, p. 38). A linguagem como espaço
de desafi o tem uma articulação diferente na peça teatral Fala baixo, da
dramaturga brasileira Leilah Assunção (1943-). Nesses anos de rejeição
à marginalização e à opressão que as mulheres sofriam, conotação muito
próxima ao clima de repressão e a falta de liberdade política imposta pela
ditadura, o riso provocado por Fala baixo, “expunha ao ridículo a severa
austeridade questionando sem medo os valores do sistema. A própria
ditadura percebeu isso e, em 1970, proibiu a peça durante a temporada.”
(ANDRADE, 2007, p. 345)
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O conto sobre a exclusão da escritora brasileira Carolina Maria de
Jesus (1914-1977), Quarto de Despejo. Diário de uma favelada, mostra a
violência da fome e a miséria a ponto de o personagem ter a impressão
de ser uma favela fora de uso, digno de estar em um quarto de despojos
(XAVIER, 2004, p. 60). Nessa mesma linha, e com mais sucesso, surge o
livro de Elena Poniatowska (México 1932-) Hasta no verte Jesús mío (1969),
sobre a azarada vida de uma humilde mulher chamada Jesusa Palancares,
quem conta a própria história. Os personagens de Poniatowska, com a
diversidade temática de mais de vinte obras publicadas, são reais, vivem,
amam, riem e contradizem, assim, a predileção pelos derrotados, por
esse culto mítico ao trágico que explica Octavio Paz, no El laberinto
de la soledad, expressão do imaginário coletivo mexicano em que os
derrotados fracassam, mas morrem com dignidade e glória.
Na década de 1980 a literatura escrita por mulheres já não
é o gueto dos anos anteriores, as mulheres fi guram nas antologias
literárias da América Latina, e se publica uma profusão de livros com
trabalhos críticos sobre sua escrita com diversos enfoques em um
espaço diferente e alternativo, em que o privado subverte o público.
A incorporação de assuntos até então considerados masculinos e o
distanciamento de uma temática romântica e testemunhal abrem
caminho a novas formas de expressão.
A protagonista de En breve cárcel (1981), de Silvia Molloy, é uma
escritora sem nome, fechada em um quarto alugado, que, sem identidade
de mulher adulta, tenta formular seu próprio eu (GODSLAND, 2007,
p. 307). Enquanto que em Conversación al Sur (1981), de Marta Traba,
duas mulheres conversam em uma casa-refúgio. Uma espera notícias de
seu fi lho e da sua nora grávida. A outra, mais jovem, tenta sobreviver às
marcas da tortura deixadas em seu corpo e na sua alma. Ambas, cada
uma a seu modo, buscam uma voz que lhes pertença em um contexto
de violência política.
Silvina Bullrich (1915-1990), Beatriz Guido (1922-1985) e
Martha Lynch (1925-1988), transcenderam o âmbito íntimo para
se transformar nas agudas e controvertidas críticas da realidade da
Argentina em um dos períodos políticos mais violentos e pungentes que
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abrange os anos de 1960 e 1980. Os problemas sociais constituem o
tema central nessas escritoras, com as contradições próprias da época.
Por exemplo, Beatriz Guido proclamava o direito das mulheres a serem
independentes, mas viveu submetida a sua amante.
La Nave de los Locos (1984), da uruguaia Cristina Peri Rossi,
incorpora à escrita feminina o tema da violência e do exílio, baseada em
uma metáfora iconográfi ca do Tapiz de la Creación que está na catedral
de Gerona pintado por Bosch, cujo título alude a um escuro método
para tratar a loucura. “Estas imagens um tanto quanto inquietantes
se entretecem com o fi o narrativo da viagem, condição essencial das
expulsões, alienações e buscas existenciais representadas no texto. Por
outra parte, é bastante notório que as características recém mencionadas
situam de início a esta narrativa original dentro da fi cção pós-moderna”
(MARTÍNEZ-FERNANDEZ, 2007, p. 429).
A escritora argentina Luisa Valenzuela (1938-), em Libro que
no muerde (1980), Cambio de armas (1982), e Donde viven las águilas
(1983), pretende resgatar a mensagem original em sua forma oral
arcaica (COLLETTE, 2007, p. 257). No conto “La llave” se apropria
da curiosidade feminina para transformá-la em um efi caz instrumento
para o conhecimento. Seu romance La Travesía (2001) “é um convite
a penetrar no labirinto de sua escrita, de empreender um percurso
para a psique de uma mulher angustiada pelo peso da memória para
chegar ao segredo mais íntimo de sua alma” (MEDEIROS-LICHEM,
2007, p. 531).
Em La premeditación y el azar (1989), de Pilar Dughi (Peru 1956-
2006), chama a atenção a criação literária a partir da interação entre o
privado e o público que é mais evidente em Puñales Escondidos (1998), em
que a protagonista deseja ser reconhecida pelo seu trabalho no contexto
de uma sociedade patriarcal que a exclui. Também em La Rompiente, de
Reina Roff é, (Argentina 1951), o que mais ressalta é a voz que apesar
do clima asfi xiante tenta se afi rmar ser própria. Las Dos caras del deseo
de Carmen Ollé (Peru, 1947) tem em comum com o romance de Roff é,
“a desesperança e a ausência das metas claras de sua fi gura central, que
igualmente é uma escritora sem muita fé em suas capacidades também
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empreende uma viagem com a companhia somente do desconcerto,
seus temores e sua escassez de recursos materiais e emocionais” (REISZ,
2003, p. 343).
Por outro lado, o início do debate sobre temas como nacionalizar
teve uma expressão particular na Argentina com o romance de Martha
Mercader (1926-2010), Juanamanuela mucha mujer (1982), que
abrange um período da história desse país marcado pelas guerras de
independência até a institucionalização do estado nacional através da
vida de Juana Manuela Gorriti (MARTÍNEZ, 2007, p. 245). Também a
insurgência política na América Latina e os movimentos revolucionários
constituíram um tema importante na narrativa feminina dessa década.
Rigoberta Menchú ganhou em 1983 o Prêmio Casa de las Américas pelo
seu livro: Me llamo Rigoberta Menchú, que dá voz a uma mulher excluída
por ser mulher, indígena e opositora do regime político. Gioconda Belli
(Nicarágua, 1948) vinculou sua escrita ao contexto político-social e teve
uma ativa participação na Frente Sandinista de Libertação Nacional.
Em seu romance, La mujer Habitada busca criar a si mesma como ser
humano através da luta política, e como mulher buscando internamente
o sentido de sua vida. Neste processo, deixa entrever a luta interna entra
a prática política e a vida cotidiana, e a congruência que isto lhe exige
(BELLI, 2007, p. 376).
O desafio do futuro
Nos anos de 1990 foram produzidas mudanças transcendentais
na América Latina, uma nova confi guração dos espaços sociais e
culturais, a consolidação de organizações feministas e de organizações
populares de mulheres, assim como a inclusão crescente da mulher no
mercado do trabalho, o que provocou mudanças na família e um novo
imaginário coletivo.
A defesa dos sem-posse e excluídos continuou ocupando parte
importante da produção literária das mulheres, mas sob a perspectiva
da mudança. O romance de Ana Teresa Torres (Venezuela 1944-) Doña
Inés contra el olvido (1992) norteia a memória dos negros em prol da
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liberdade; a boliviana Alison Spedding, eu seu romance De cuando
en cuando Saturnina, relata uma rebelião indígena produzida entre os
anos de 2070 e 2085 na voz de uma mulher. Carmen Boullosa (México
1954-) faz incursão em romances que poderíamos qualifi car de históricos
em que se põe ao lado dos humildes e vencidos (PFEIFFER, 2003, p.
259-275), “no universo mágico dos indígenas, abundante em tradições
e segredos mítico-religiosos da cultura mexicana/asteca” (CARULLO,
2007, p. 297).
Em La madriguera (1996), de Tununa Mercado (Argentina 1939-),
a memória serve para subverter a história através de uma ponte que se
estabelece entre a história de uma menina e a história nacional (SEMINET,
2007, p. 294). Ao passo que, no romance de Laura Riesco (Peru 1940-),
Ximena de dos caminos (1994), o confronto que uma menina vive entre o
mundo do pai, de origem espanhola e funcionário da companhia norteamericana
que então explorava um entrave mineiro e o das criadas, todas
de origem indígena, é o universo que deve transitar entre difi culdades
e desafi os na exploração de um mundo interior, transformando assim a
busca da própria identidade no longo caminho que deverá percorrer para
conseguir fi nalmente sua liberação através da palavra.
Mas o fato mais relevante dos anos noventa foi o boom da literatura
escrita por mulheres na América Latina, expressa em quatro romances:
La casa de los espíritus (1982), de Isabel Allende (Chile 1942-); Arráncame
la vida (1986) de Ángeles Mastretta (México 1949-); Como agua para
chocolate (1989) de Laura Esquivel (México 1950-); y Nosotras que nos
queremos tanto (1991), de Marcela Serrano (Chile 1951-). Foi dito então
que o realismo mágico iniciado na América Latina com o romance Cem
Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, tinha expressão feminina na
Casa de los Espíritos, amplamente reconhecida pela crítica, e que iniciou
um discurso que fascinou a década dos noventa: o amor, o ambiente
íntimo e a cozinha.
Entretanto, depois houve uma queda com o romance
multimidiático de Laura Esquivel, La ley del amor (1995), Mal de amores
(1996) de Ángeles Mastretta e as divagações culinárias de Isabel Allende
em Afrodita (1997). É provável que o conto linear com infl uência do
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realismo mágico, a ênfase em temas sentimentais e domésticos, e uma
construção de personagens típicos onde a protagonista aparecesse como
uma supermulher, lhe fora imposto com a ajuda do mercado, um corsé
ao romance escrito por mulheres que teve uma curta duração. Mas
esta falta de simpatia – afi rma Reise – com relação a todo o tipo de
conto que não desafi e, desde as bases mesmas da linguagem, os valores
hegemônicos e o logocentrismo dominante, pareceria negar a validade e
a importância das “tretas del débil”, noção que Josefi na Ludmer utilizou
convincentemente para analisar a obra de Soror Juana Inés de la Cruz e
com a qual a maior parte da crítica feminista esteve de acordo (REISZ,
2003, p. 332).
Mas o certo é que na era da globalização, do fi m das utopias e da
consolidação dos discursos neoliberais, se percebe, na primeira década
do século XXI, uma maior intolerância quanto às diferenças culturais,
religiosas e étnicas, nas quais a exclusão e a marginalidade abrangem
maiores setores da sociedade. A expressão da subjetividade é cada vez
mais negada e tudo parece despersonalizar-se individual e coletivamente.
Nessa perspectiva, o desafi o está lançado. É necessário dar resposta aos
silêncios, examinar os discursos daqueles que disseram muito e nada
sobre o matrimônio, a maternidade, o corpo feminino, o espaço íntimo
e o espaço público, na construção de uma subjetividade confrontada a
novas formas de relação social. E estimular uma consciência de alteridade
em defesa de nossa identidade cultural e histórica latino-americana,
contra uma civilização negadora da diversidade e da diferença cultural.
[Texto recebido em março de 2013 para esta edição, cuja primeira versão
foi apresentada no Seminário Mulher e Literatura, em 2007]
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Women’s literature and writing in Latin America
Abstract: One of the most remarkable features of women’s writing is a
direct way to question the hegemonic discourses, criticize and reinterpret the
traditional Latin American culture. Voices that emerge from the silence to draw
new discursive maps for the reconstruction of memory and fi ction, which also
means a language of its own, a space of liberation, recognition and redefi nition.
Th is article follows the development of this writing over an intense process of
fundamental moments of the literature written by women in Latin America.
Keywords: Breaking the hegemonic discourse. Process of literature
written by women in Latin America.

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