Ana Brancher, sobre escritoras en contra de la dictadura.

Colóquio Internacional Gênero, Feminismos e Ditaduras no Cone Sul.
Universidade Federal de Santa Catarina – de 4 a 7 de maio de 2009.
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Escritoras e resistência às ditaduras militares no Cone Sul (1960 -1990)
Ana Brancher, UFSC
brancher@mbox1.ufsc.br

Assim que ocorreram os golpes de Estado que instalaram ditaduras militares no Cone Sul,
os governantes trataram de eliminar aqueles que se manifestaram contrários: foram proibições,
censuras, prisões, torturas, desaparecimentos, mortes, exílios1. Sindicalistas, estudantes, artistas,
professores, jornalistas, operários, livreiros, políticos, às vezes simplesmente parentes, amigos,
vizinhos ou meros conhecidos de trabalhadores em geral que se envolveram na resistência aos
novos regimes políticos, tiveram casas invadidas e depredadas, atividades proibidas, intimidades
devastadas. Os escritores foram uma categoria duramente atingida.
Este trabalho tem um recorte bem definido: considerar apenas as escritoras que sofreram
reveses em decorrência das ditaduras militares. Não se trata de analisar o desempenho das escritoras
durante o período, porque houve escritoras que não tiveram nenhum tipo de problema com as
ditaduras, houve inclusive as que trabalharam a serviço das ditaduras; por outro lado, aquele foi o
período do grande reconhecimento internacional das literaturas latinoamericanas, o chamado boon
literário. Na explosão do romance latinoamericano, as escritoras ocuparam pequeno espaço. Ainda
que muitas tenham surgido neste período e outras tantas tiveram publicações traduzidas em várias
línguas, algumas inclusive contempladas com importantes prêmios literários, os ‘grandes sucessos’
de vendas foram dos escritores. Nos anos 60 até o ano de 1990, apenas uma escritora do Cone Sul
teve grande repercussão internacional: a chilena Isabel Allende (La casa de los espíritus, 1982)2.
Num levantamento inicial de autores que publicaram durante as ditaduras militares, percebe-se que
ainda que tenha aumentado o número de escritoras, a maioria continuou sendo de escritores.
Analisando os ocupantes da Academia Brasileira de Letras, constatamos que a maioria era homens.
Numa rápida análise nos compêndios, nos catálogos das editoras, nas coletâneas e antologias
(exceto obviamente quando a mesma pretendia reunir escritoras), nas listas de ‘maiores escritores’
do século, podemos constatar que a maior parte dos autores era masculina. Eventualmente, uma que
outra escritora foi destacada. Seria interessante, numa pesquisa mais ampla e que extrapola os
limites deste trabalho, um levantamento nos suplementos literários de três ou quatro jornais de
1 Sempre é importante lembrar os períodos das ditaduras: Argentina: 1976 – 1982; Bolívia: 1971 – 1982; Brasil: 1964-
1985; Chile: 1973 – 1989; Paraguai: 1954 – 1989; Uruguai: 1973 a 1984.
2 Ressalto que analiso apenas para o Cone Sul e entre 1960/1990; em termos de América Latina, temos Angeles
Mastretta (México, com Arrácame la vida, 1986), Laura Esquivel (México, Como água para chocolate, 1989); há ainda
Marcela Serrano (Chile, Nosotras que nos queremos tanto, 1991).
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maior circulação bem como nas dissertações e teses universitárias que trabalhem com literatura,
para estabelecermos um balanço quantitativo entre escritoras e escritores nos anos 60 a 90.
Evidentemente, não quer dizer que não tenha havido excelentes escritoras, mas houve um certo
deslocamento, se podemos chamar assim, nas relações de gênero no campo dos autores de ficção.
Nos livros publicados pelas escritoras dentro do recorte estabelecido, percebemos, entre
outras questões, as estratégias desenvolvidas para resistir às ditaduras; a maneira como as torturas,
repressões, prisões, desaparecimentos, marcaram a vida de várias pessoas; registra-se a denúncia
sim, dos barbarismos cometidos pelos agentes dos governos; percebe-se inclusive como a relação
homem mulher interferiu entre os próprios atingidos pela repressão; por seu lado, há páginas
verdadeiramente preciosas na arte da ficção, com propostas inovadoras na linguagem.
Ao investigar o diálogo entre gênero, identidade e literatura a partir dos romances de
algumas escritoras, Marcia Hope Navarro considera que eles possibilitam “penetrar na dimensão
oposta do olhar hegemônico, ou seja, parece que sua ficção aprendeu a dialogar e a, efetivamente,
tentar diminuir as assimetrias de poder nas relações entre os gêneros”, romances que questionam ou
evidenciam uma História marcada “pelo privilégio de um gênero [masculino], pela exclusão de
raças [sic] que não fossem a branca, e pelo desprezo das classes sociais mais baixas”; desse modo,
percebe a autora, através dos romances analisados é possivel “romper a visão unilateral das práticas
discursivas e hegemônicas, permitindo às categorias marginalizadas latino-americanas encontrarem
sua própria identidade” 3.
Evidentemente, e ainda dado os limites desta comunicação, não procedo a um completo
levantamento de escritoras e obras prejudicadas pelas ditaduras. Escolhi uma autora de cada país do
Cone Sul de modo que me permitisse uma amostragem das problemáticas que procuro evidenciar:
as diferentes compreensões destas escritoras sobre a questão do feminismo (que justamente se
consolida como tal naquele período) ou do ser mulher e escritora, e como as ditaduras interferiram
nas suas obras. Muitas optaram ou foram obrigadas a partir para o exílio (o que acabou sendo
enriquecedor, pois, entre outras circunstâncias, mantiveram contato com as teorias feministas que
estavam a pleno vapor na Europa e USA) 4; outras publicam gêneros literários, como romances
policiais, de modo a não serem molestadas pelos governos; algumas escreviam e passavam cópias
(manuscritas) ou mantinham seus textos inéditos muitos dos quais foram publicados após o fim das
ditaduras; houve ainda umas poucas escritoras que, tendo já consolidada carreira, seguiram
escrevendo, publicando e mesmo fazendo consistente enfrentamento aos governos militares não
foram diretamente atingidas pela repressão.
3 NAVARRO, M. H. Gênero e História na Literatura Latino-Americana in CAVALCANTI, I.;LIMA, A.C.A.:
SCHNEIDER, L. (Org.). Da Mulher às Mulheres: dialogando sobre Literatura, Gênero e Identidades. Maceió:
EdUFAL, 2006.
4 Em outro artigo analiso algumas escritoras exiladas.
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Começemos, porque de alguma maneira há que começar, pelo A de Argentina. Naquele país
o terrorismo de Estado amordaçou boa parte da produção literária; além das proibições diretas de
publicações, às vezes por decreto presidencial, houve queima de livros, fechamento de quiosques e
livrarias com ameaças e prisões de seus proprietários. Parte das escritoras optou por sair da
Argentina o que caracterizou toda uma literatua produzida no exílio. Entre as que permaneceram, e
por ser membro do Partido Revolucionário dos Trabalhadores, em Rosário, encontramos a escritora
Alicia Kozameh; ela ficou presa de setembro de 1975 a dezembro de 1979 quando foi libertada sob
condicional; pouco depois partiu para o exílio. Na prisão, ela escreveu e viveu parte do que viria a
ser matéria de seus futuros livros5 e que se reflete nas obras posteriormente publicadas:
Estuve haciendo serios esfuerzos por recordar algunos episodios. No hubo caso. Es
como si se me instalara una sábana entre los ojos y el cerebro. La razón de la
desmemoria está ahí: en los colores, las formas, la mayor o menor nitidez, los
ritmos. La capacidad letal de los acontecimientos6.
Sobre seus cadernos escritos na prisão, Alicia Kozameh diz “Mis dos cuadernos escritos en
la cárcel son algo de lo que jamás he podido desprenderme. Ni siquiera lo habría intentado. Como,
digamos, con un órgano del cuerpo.”7 Percebemos também as marcas que a prisão deixou em sua
vida:
Después de haber pasado por situaciones particularmente difíciles, y siendo que me es
imposible evitar las marcas, profundas, cuando llega el momento de sentarme a escribir,
opto por obviar el testimonio directo. Logro a través de la ficción la mediatización, la
distancia, que me permite escribir sobre el tema. O sea: o no escribo sobre el tema, o lo
llevo a la ficción8.
Na Bolivia, Gaby Vallejo Canedo publicou Los Vulnerables (1973), Hijo de Opa (1976) em
plena ditadura. Segundo suas palavras, os livros nasceram “del dolor y del miedo de un país en
dictadura. Fue la rabia el principal motor de la escritura. Había muchos muertos, muchos torturados. De
ahí la violencia, la fuerza, el horror de las páginas.” 9 Na mesma entrevista, a autora evidencia a relação
homem/mulher bem como a questão de uma escritura feminina:
García: Uno de los temas recurrentes en tus obras es el machismo ¿Piensas que es
un problema fuerte en Bolivia?
Vallejo: No sólo fuerte, sino difícil de desestructurar. Las mujeres, muchas, hemos
asumido con fuerza una nueva situación. Sabemos que es “nuestro tiempo” y que
estamos “recuperando el espacio que la humanidad nos debe”, pero los hombres de
5 BOLOGNESE, Chiara. Palabras desde la cárcel: los cuadernos inéditos de Alicia Kozameh In
<http://www.mshs.univ-poitiers.fr/crla/contenidos/ALICIA%20KOZAMEH/Presentation/Presentacion1.html>.
6 KOZAMEH, Alicia. Pasos bajo el agua, Buenos Aires: Contrapunto 1987.
7 <http://www.mshs.univ poitiers.fr/crla/contenidos/ALICIA%20KOZAMEH/Presentation/Presentacion.html>.
8 Idem.
9 Entrevista In: < http://www.utpa.edu/dept/modlang/grafemas/diciembre_07/garcia.html>.
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mi país no leen teorías, ensayos, novelas, que desarrollen los temas. Existe un
sistemático rechazo a todo lo que tenga que ver con “feminismo” o libros escritos
por mujeres. Entonces siguen siendo una muralla. Esa mitad del mundo que
necesitamos, no cambia. El cambio es leve. Sin embargo existimos, algunas
ocupamos nuestro sitio, ejercemos nuestros derechos.
García: ¿Piensas que existe una diferencia entre escritura femenina y masculina?
Vallejo: Sí. Existe. Si bien en lo esencial, somos seres humanos con las mismas
potencialidades, y experiencia vitales, históricamente somos construcciones
sociales, ideológicas acaecidas en el tiempo, en miles de años. Nos han enseñado a
ser mujeres, a ser hombres. Eso implica centenares de comportamientos,
decisiones, elecciones desde “la mujer” o desde el “hombre”. Entonces, escribir es
transferir esas diferencias al texto10.
Em Hijo de Opa11 Martin é filho de uma camponesa indígena ‘mentalmente perturbada’ (
opa, em espanhol) violentada por um fazendeiro; obrigados a deixar o campo vão residir na cidade
onde sofrem toda sorte sorte de desventuras. Ao mesmo tempo em que retrata a família fragmentada
pela violentação da mulher e expulsa da terra que lhe proporciona o alimento, o romance pode ser
visto como metáfora do país, fraturado pela violência de governos ditatoriais cujos membros são
parte de uma elite econômica branca e corrupta.
Ainda que geralmente lembrada como deputada e militante, Heloneida Studart (1932 –
2007) escreveu O Pardal é um pássaro azul (1975) durante a ditadura militar no Brasil. Ela foi
eleita, em 1966, presidente do Sindicato das Entidades Culturais; foi presa em 1969 por fazer
oposição à ditadura, foi fichada, perdeu emprego; foi também uma das fundadoras da primeira
entidade feminista do Brasil, o Centro da Mulher Brasileira em 1975, e do Centro Estadual dos
Direitos da Mulher. Em O Pardal é um pássaro azul12, parte do que a autora denominava “trilogia
da tortura” com os livros O torturador em romaria e O estandarte da agonia, acompanhamos a
trajetória e as vicissitudes de João e Marina, membros quase desgarrados de uma família rica da
Paraiba. Percebemos a sutileza da autora para burlar a censura em passagens como: “- Que é que
você está lendo? Perguntou [a mãe]. - Ah, é uma história aí de estripador... Tem brumas, gerânios,
ferro de lareira, mordomos. Nada a ver conosco.” Ou ainda “- Por que você está chorando, moça?
[pergunta uma criança à Marina]. Eu estou chorando? Ultimamente as lágrimas me descem pelo
rosto e não as sinto mais.” João fora preso por pichar nos muros da cidade “O pardal é um pássaro
azul.” Ele vivia mostrando a Marina o que era a penúria, exposta pelas ruas da cidade, e vivia
também falando de um certo “pesadelo unânime” que invadia vários países da América Latina, mas
que Marina não apreendia muito bem; ela fora criada no mundo da avó que repetia sempre: “Mulher
não tem querer. Nem negro, nem pobre”.
10 Ídem.
11 VALLEJO DE BOLIVAR,. Gaby. Hijo de Opa, La Paz: Editorial Los Amigos Del Libro, 1977.
12 STUDART, Heloneida. O pardal é um pássaro azul, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
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No Chile, o golpe militar significou uma derrota para toda a esquerda latinoamericana;
desde os anos 60 o país vivia um período político e cultural que atraiu e acolheu centenas de
pessoas de todos os países do continente. A brutalidade instantânea do golpe ( invasão com avião e
bombas em Santiago, milhares de mortos, presos, desaparecidos, exilados) ceifou uma geração
inteira de artistas. A escritora chilena Damiela Eltit retrata esta brutalidade em Lumpérica, um livro
que transita entre o ensaio, a poesia, o romance, as artes plásticas.13 A ação se dá numa praça:
esta plaza está rodada llena de pasto a pedazos. Mis piernas ya no brillan cuando
las froto, ni los vellos se erizan, estos vellos que cubren sutilmente mis piernas. Ya
no me gusta arrastrarme por allí debajo del farol que me contagia su descascaro.
Porque mis piernas más bien se cubren de tierra y entonces no noto la erguida de
los vellos que me traspasan, ha sí, me penetran 14.
Como já está expresso no próprio título, os personagens são os lumpens chilenos, os
excluidos, marginalizados, bêbados/desempregados, prostitutas, também os perseguidos pela
ditadura, que, todavia são trazidos ao centro da praça/país. O livro está visceralmente comprometido
contra da ditadura militar chilena. Sobre uma escrita feminina, a autora acentua a contradição desta
condição :
Ante la trampa que se ha creado de partir la literatura en dos, la verdadera y la
femenina, y a la vez generar subgrupos como la literatura gay, la literatura
mapuche, ¿cree que de algún modo los mismos grupos han sido cómplices al
aceptar el enfoque de minoría?
- Es un problema bien complejo; por una parte nadie podría discutir que hay un
sistema dominante que ha funcionado históricamente de una manera y va a seguir
funcionando. Y en este sistema la pluralidad es muy monolítica, así como la
posibilidad de ingresar a él, en ese sentido me parecen interesantes estos
movimientos sociales por las diferencias para reclamar espacios. Efectivamente,
estas minorías se han organizado social y políticamente y han conseguido ganar
ciertos espacios, todavía de manera muy asimétrica, tal vez en cierto sentido puede
ser hasta fugaz porque la sociedad no es desarrollista y un espacio ganado luego
puede ser espacio perdido; la historia tiene fuerte reversión. En ese sentido me
parece interesante, pero el punto también es un arma de doble filo porque la
segmentación de lo literario es muy útil para la segmentación de los mercados;
entonces la pregunta que no dejo de hacerme es si acaso no se ha creado una serie
de ghettos: el ghetto mujer, el ghetto gay, y en el fondo los ejes literarios se
mantienen incólumes, siguen siendo totalmente históricos, manejados por las
mismas fuerzas15.
13 Quando a autora começou a escrever a obra, em 1979, fazia parte de um grupo de artistas – CADA, Colectivo
Acciones de Arte e do Escena Avanzada, com intervenções artísticas, discussões, sempre enfrentando e tentando burlar
a repressão e a censura . cf VIDAL, Paloma. “...continuamos ainda nesta viagem osbcura e secreta’: memória e
resitência na narrataiva de Diamela Eltit” In ipotes e- revista de estudos literários
<http://www.revistaipotesi.ufjf.br/volumes/18/cap04.pdf>.
14 ELTIT, Diamela. Lumpérica. [1983] Santiago de Chile: Seix Barral, 1998.
Ver também <http://www.letras.s5.com/Eltit2.htm>.
15 <http://www.nuestro.cl/notas/perfiles/diamela_eltit6.htm>.
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A cena literária no Paraguai foi muito peculiar até o fim da ditadura, em1989; qualquer
literatura que insinuasse o menor tom ‘político’ não tinha espaço diante do rígido e mais longo
governo ditatorial do Cone Sul. Mesmo os escritores paraguaios estavam marcadamente divididos
entre os que viviam/escreviam no exílio e os que ficaram no país, sob controle absoluto. Em
decorrência das políticas públicas, havia poucos leitores, poucas editoras, poucas publicações,
poucas universidades e escolas. Somado a esse cenário em maior ou menor escala comum aos
demais países, acresce que no Paraguay a maior parte da população fala guarani e as manifestações
literárias nesta língua foram sistematicamente reprimidas16. Além do mais, segundo os estudiosos
da literatura paraguaia, a sociedade paraguaia era “rigidamente establecida y cerrada para la
mujer”17.
De modo que naquele período, as escritoras publicaram apenas o que lhes foi permitido pela
censura18 e foi somente após o fim da ditadura que as escritoras começaram efetivamente a
distinguir-se. Já no fim da ditadura, Renée Ferrer publicou em 1988, seu priemiro romance Los
nudos del silencio19. O livro aborda mais a questão da mulher, a opressão vivida pelas mulheres,
ainda que o personagem masculino carregue as marcas da repressão: ele é um funcionário do
governo que exerce também o papel de torturador.
A escritora Teresa Porzecanski já havia publicado alguns livros antes da ditadura se instalar
no Uruguai, em 1973. Nos treze anos de governo militar, publicou apenas três livros, um dos quais
o livro de contos Construcciones20; as tramas envolvem os cotidianos de personagens como
costureiras, conversas entre vizinhas de bairro, empregadas domésticas; nas palavras da autora, seus
personagens são “discretamente disgraciados y ocasionalmente eufóricos”. Em entrevista, ela
considera que a ditadura
Influyó bastante porque yo estaba en un momento de descubrir un estilo de
escritura y no se podían hacer reuniones culturales, uno trabajaba solo. Entonces
fue que empecé a problematizar el tema del lenguaje. No quería escribir consignas,
quería escribir una literatura más compleja. Todo lo que está en Construcciones fue
escrito durante la dictadura o en los años un poco anteriores. Son cuentos
sumamente simbólicos, metafóricos, donde se va gestando toda una forma de
escribir. No quiere decir que yo me limite ahora en el año 2000 a ese tipo de
escritura, la he ido decantando. Sigue siendo una escritura barroca pero más lenta y
más filtrada21.
16 BAREIRO-SAGUIER, Rubén. ‘Los intelectuales frente a la dictadura: La represión cultural en Paraguay’ - Nueva
Sociedad, n. 35 in: <http://www.nuso.org/upload/articulos/411_1.pdf> Como sempre, há as exceções e no caso são os
trabalhos de literatura guarani recolhidos por Curt Nimuendajú – Unkel.
17 ALCALÁ, Guido R., BARCÓ, José V. P. Narradoras Paraguayas – antologia. Las narradoras paraguayas y su
evolución histórica in
<http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/04703885499347239647857/p0000001.htm> .
18 Faz refletir o fato de que reconhecidas escritoras paraguaias nasceram em outros países: Josefina Pla (Espanha),
Noemi Ferrari de Nagy (Itália), Mariela de Adler (Russia), Teresita Arriola (Argentina).
19 FERRER Renée Los nudos del silencio, Asunción: Arandurã, 1992.
20 PORZECANSKI, Teresa. Construcciones. Montevideo: Arca, 1979.
21 <http://www.ucm.es/info/especulo/numero19/porzecan.html>
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Em outra entrevista, Teresa Porzecanski se refere à sua produção literária do período da seguinte
maneira:“Una sensación de ahogo y de asfixia fue la característica de estas novelas, la impresión de
que estábamos en un mundo ‘sin salida’, girando en torno a lo mismo y siempre enclaustrados.”22
Sobre a questão da mulher no Uruguai, na mesma entrevista a autora considera que, sem cair no
perigo de generalizações é possível situar “a la mujer uruguaya como muy ‘sufrida’, que soporta
mucho, y que recién ahora está empezando a despertar en cuando a darse su lugar dentro del
matrimonio y la familia. Recién ahora está generando el empuje que le ha estado faltando, para
enfrentarse con su propia situación, y realizarse como persona.”
Com este curto recorrido pelos livros e entrevistas das seis escritoras, podemos apreender as
marcas que os governos repressores deixaram. Não foi intenção homogeneizar uma questão tão
complexa quanto a relação da escritora com uma literatura feminina ou com o feminismo na época;
também não se pode uniformizar realidades tão cruéis e por vezes tão específicas a cada uma das
ditaduras militares nos distintos países do Cone Sul. Por certo a temática contempla amplos aspectos
como a questão da atuação político partidária das escritoras, a questão econômica, a questão
midiática, a questão de leitores, etc e etc. Entretecemos apenas um fio (o literário) no amplo tecido da
sociedade latinoamericana. A profissão de escritora contempla, por definição, o exercício da palavra.
Ainda que em nossos países do Cone Sul, no período em estudo, a prática de leitura tenha sido
restrita a restritas parcelas da população e para conferirmos isto basta ver a pequena tiragem das
obras literárias particularmente as escritas por mulheres; ainda que os problemas e dilemas vividos
pelas pessoas fossem tão terríveis e dolorosos que escrever possa ter tido uma importância menor
naqueles dias; ainda que a força da censura e da repressão tenha baixado sobre a palavra e o corpo,
ainda assim os romances se constituíram num vigoroso veículo de circulação de idéias e de registro
histórico que nos permite tentar compreender essas excrescências – no sentido médico da palavra –
que foram as ditaduras militares no Cone Sul.
22 <http://jai.com.uy/entrevistas/entrevista21.htm>.

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